Antigamente, em um contexto urbano menos adensado e populoso, as casas e prédios eram construídas com uma relação direta com a rua, não havendo a necessidade de existir muros e cercas frontais. Com o tempo, o tecido urbano foi se transformando e a divisão entre espaços públicos e privados se fez cada vez mais evidente e — sob o argumento da segurança pública — necessária. Apesar dessa divisão acontecer de diferentes formas nas cidades brasileiras, de maneira geral, utiliza-se muros, cercas e grades nas fachadas, criando uma espécie de espaço de transição entre a rua e o edifício e transformando a relação entre o objeto arquitetônico e a rua.
O muro alto, fechado, de alvenaria é um dos principais elementos de segurança empregados nos condomínios, casas e edifícios na busca de garantir a segurança de seu espaço. As consequências desses muros são fachadas, ruas e espaços públicos quase inanimados, desertos, que foram muito questionados por teóricos no fim do século XX e começo do XXI. Em contraposição a esse tipo de vivência na cidade, muitas prefeituras começaram a alterar sua legislação buscando construir alternativas de tecido urbano. A fachada ativa é retomada e com ela uma nova variedade de cercamentos.
Ainda que conceitualmente a ideia continue a mesma, estabelecer um limite claro entre o que é público e o que é privado, a materialidade desse limite depende de alguns fatores como a legislação local, mas também a ambiência que se pretende, tanto internamente ao lote quanto na rua, os requisitos de privacidade, as questões econômicas e também de manutenção, resistência e durabilidade. Se muros fechados e opacos são impossibilitados, a alternativa são cercamentos metálicos, com plantas ou ainda, cada dia mais comum, o vidro.
Por um lado, o gradil metálico apresenta uma grande variedade de formas, feitas de chapas dobradas, vergalhões e grelhas, além de poder ser somado a uma proteção vegetal que pode trazer mais privacidade entre a rua e a construção. Por outro lado, o aço é um material que varia muito o custo, o que impacta no preço final. Nos últimos anos, o aço teve altas de preço, o que fez com que boa parte da construção civil buscasse alternativas para seu uso. Além disso, sua manutenção é custosa e exige regularmente pintura para proteger o material da exposição ao tempo.
O vidro é uma alternativa que tem sido cada vez mais utilizada. Apesar de não ser autoportante, e portanto ser sempre necessário uma estrutura adjunta, como perfis de alumínio, por exemplo, o vidro é um material que pode compensar financeiramente. Com o avanço em sua tecnologia, os vidros hoje em dia são resistentes a impactos e também podem ser reforçados, se tornando alternativas para a segurança interna. Sua permeabilidade visual também é interessante caso haja a necessidade de uma comunicação entre a rua e o edifício, nos prédios de uso misto, por exemplo.
Além disso, o vidro apresenta uma manutenção simples e pouco recorrente, em comparação com as cercas e gradis, pois pode ficar exposto ao tempo sem tratamento. Por fim, a partir de mudanças culturais, a estética do vidro, da transparência e fluidez, foi sendo cada vez mais valorizada na nossa sociedade. Os arranha-céus contemporâneos com suas fachadas de vidro, junto da industrialização da construção civil, transformaram o senso estético da sociedade. Onde antes valorizava-se os gradis de ferro desenhados e feitos por artesãos manualmente dos antigos casarões, hoje prima-se pela industrialização e otimização dos materiais e elementos.
Dessa forma, ao mesmo tempo que há uma mudança cultural na valorização dos elementos construtivos que impactam nas preferências sociais, há também questões econômicas e de manutenção que colaboram para isso. Ainda assim, os pontos levantados por Jane Jacobs continuam válidos para nosso contexto urbano. Ainda que, hipoteticamente, os muros fechados sejam completamente suprimidos, é necessário ressignificar nossa relação com a rua, com o que é público, para que possamos transformar nossas relações sociais.